quarta-feira, 30 de junho de 2010

Domingo inesperado



Ninguém poderia imaginar que aquele domingo terminaria daquela maneira. Tantos domingos iguais, tantas segundas e terças-feiras...Tudo igual. Muito amor no começo, muito cuidado. Promessas e juras de amor. Um pouco de ciúme, sempre achei que fosse natural. Após o casamento quem imaginaria que aquela semente de ciúme germinaria tomando as proporções de uma obsessão, calúnias insultos e humilhação? Não era amor, nunca foi. Ninguém tinha notado isso. Notei tarde demais.
Eu o conheci numa tarde de primavera. Um barzinho à beira mar e um dia muito agradável - nem tão quente, nem tão frio - recepicionaram o começo do que seria um amor eterno....Uma amiga me apresentou. Ela foi-se embora, tinha "compromissos", eu e ele ficamos. Tantos outros encontros se sucederam, mas sem a presença dessa minha amiga. Alguns meses de encontro, muitas flores e muitos bombons, confidências, amizade e admiração me levaram ao altar.
Notei pequenas estranhezas logo na lua-de-mel. Ele tinha muita pressa em me possuir! Nem pensou em me satisfazer, em ser gentil comigo como nas outras vezes. Desta vez foi diferente. foi frio. Satisfez-se de mim, rolou pro lado e dormiu um sono pesado. Quis chorar enquanto ele passava aqueles poucos minutos em cima de mim...Mas assim o fiz quando notei que ele realmente tinha pegado no sono. Já aliviada, pensei que aquilo foi só uma noite ruim e que noites melhores chegariam. Porém, noites apenas menos piores aconteciam dependendo do humor dele. Comecei a desconfiar que tivera eu feito uma má escolha...
Não gostei de saber, após a lua-de-mel, que moraríamos com a mãe dele. Não tínhamos planejado isso! Juntei minhas economias e entreguei a ele certa de que moraríamos num apartamento, só nosso! O seu pai tinha morrido já fazia anos, ele era filho único. A mãe (que venerava e o defendia em tudo) viveria sozinha. Restaria a ela morar com a sua irmã bem mais velha e sua mãe. Julgou (sozinho) por bem que todos moraríamos juntos.Nós, a mãe, a tia e a avó.
Todas muito subservientes a ele, tudo o que eu dizia que parecesse contra ele era motivo de bronca. A mãe e a tia eram praticamente escravas dele. A avó vivia acamada, caquéctica, nunca ouvi a voz dela...Precisava de cuidados especiais, mas a minha sogra e sua irmã transferiam a atenção e cuidados extras a ele! Comecei a me queixar, mas isso só piorava tudo. Nada que dissesse a elas faria alguma diferença.
Passei então a me queixar com ele, que por sua vez, gritava comigo. Passei a encará-lo e contrariá-lo...o dia em que eu, por vários e vários motivos, deixei de o satisfazê-lo como homem fui agredida... Fui pega com força incrível pelo braço, com a outra mão tapou com força e minha boca...tentei correr, mas foi inútil. Fui jogada na cama...senti todo o peso do seu corpo másculo cair em cima de mim, o cretino com aquela mão enorme continuou tapando a minha boca, e com a outra levantou uma de minhas pernas...nunca demorou tanto tempo pra sair de mim...Achei q morreria ali, Bem que quis...Pra quê continuar vivendo? Recebendo aquelas lambidas nojentas, ouvindo aquelas risadas de escárnio...A violência doméstica não parou com o tempo. Eu nunca conseguia me defender, pois sou pequena e fraca, o contrário dele. aquela casa me causava muito medo. O meu maior medo era o de engravidar. Ficava sempre atenta ao meu ciclo menstrual. Um dia de atraso já me causava um desespero interno. Quando isso acontecia eu me trancava no quanto e chorava... Não conseguia me imaginar cuidando de uma criança naquele ambiente tão opressor. Tudo me sufocava.Eu estava sozinha. Não tinha cúmplices, aquelas mulheres me odiavam, aquela casa grande só me rendia serviços domésticos infindáveis,à noite o meu marido me violentava...Passava algumas horas do meu dia conversando com a avó. Mesmo muda e inválida, sempre tive a impressão de que ela queria, com os seus olhos, me alertar de alguma coisa. Ela passou a ser a minha única companhia. Eu falava com elas algumas coisa engraçadas, nobres ou tristes que tinha visto na televisão, cuidava de sua alimentação e lhe dava banho...Em troca ela sorria pra mim. Isso era o suficiente para lavar a minha alma...
Um dia tive a oportunidade de ficar sozinha em casa. Aquelas cobras escravas do sádico que era o meu marido saíram, levaram a minha senil amiga ao hospital. Suspeitávamos que ela estivesse com pneumonia, tossia muito! O carrasco tinha ido trabalhar e eu fiquei só naquele casarão antigo, escuro e que cheirava mofo. O dia estava muito agradável, um sol lindo e um céu cheio de nuvens.Fiquei surpresa ao constatar isso ao abrir a janela. De súbito me veio um desejo de sair e aproveitar o dia, fugir! Fugir? Melhor não...Fugir sim! Comecei a fazer minhas malas! Aquelas mulheres demorariam a retornar e o desgraçado também. faltava muita coisa pra guardar. Eu não sabia para onde iria e nem como iria... Minha família estava toda no interior do estado.Eu em Santos, apenas a trabalho, retornaria dentro de um ano. Mas, antes de terminar o prazo do contrato com a empresa em que trabalhei, fui demitida. Não quis avisar ninguém. Logo me casei. A minha família soube do meu casamento, mas não que eu estava desempregada...Achei melhor assim, quis passar a impressão de que tudo andava bem...Para voltar eu precisava dispor de uma certa quantia de dinheiro. Quantia essa que eu só dispunha de um quarto! Mas não quis pensar muito nisso...
O tempo estava passando, estava chegando perto do horário do almoço. O telefone tocou! Era o meu carrasco. Avisava que (excepcionalmente) naquele dia almoçaria em casa, ordenou que eu aprontasse o almoço, e logo! Eu respondi afirmativamente (fiquei branca imediatamente, dura como uma pedra, minhas mãos gelaram! Ele trabalhava perto de casa. Em menos de dez minutos estaria lá, me vendo de roupas trocadas e malas prontas! Pânico!) sem pensar bati o telefone. Derrepente eu tive a intuição de que, com a minha atitude "grosseira", voltaria ainda mais rápido para revidar e não dar o braço à torcer! Resultado: cinco minutos depois ouvi o portão batendo com força! Nosso quarto estando no térreo, abri a janela e saí apenas com uma mala nas mãos, tentando me apressar e fazendo o mínimo de ruídos possíveis! Saí pelos fundos. Corri até o outro lado da rua. Minha salvação: Um táxi! Entrei nele sabendo que eu tinha no bolso cinco reais. Mal conseguindo falar (dicção perturbada por causa do meu pavor) ordenei que me levasse ao litoral. Notando a minha situação de desespero, minha palidez facial, sem me indagar o motorista assim o fez. Estando eu dentro do carro, logo me abaixei temendo que o verme estivesse me vendo! No caminho, que levaria uns trinta minutos, confessei em linhas gerais a minha situação para o taxista. Para a minha sorte, ele tinha um espírito cristão, não me cobrou a viagem e meu deu um cartão. Disse que eu poderia lá encontrar um abrigo temporário. Já na praia eu me despedi do taxista e ele de mim (que pareceu se compadecer de mim). Ele se foi.
Estava usando um casaco já velhinho que tinha mas que gostava, com uma mala e um maço de cigarros nas mãos. Me dirigi em direção ao mar, prometendo a mim mesma que a minha vida seria diferente...Joguei o cigarro já aceso pro lado, larguei o casaco e a mala sei lá onde e continuei caminhando sem rumo na areia da praia....

terça-feira, 29 de junho de 2010

dividir uma imagem incrível...


Nessa postagem queria registrar pra poder nunca me esquecer dessa imagem que eu vi no metrô, semana passada...Registrar também pra poder dividir isso com quem mais quiser ler....
Como havia dito, estava no metrô de São Paulo. Linha azul. A caminho da Zona Norte da cidade, como sempre faço. Rumo a minha casa. Por ser perto de 6h da tarde, como de costume, o metrô estava bem rico, demograficamente falando! Quando consegui me sentar um um banco, tive uma visão privilegiada e linda. Adorável... Duas figuras tão contrastantes inteiramente sintonizadas e em harmonia. A saber, as figuras eram do sexo masculino. Um homem e um bebê. O homem tinha o seu cabelo o pelos da face todos já brancos, mas esbanjava um espírito jovem. Era um homem que aparentava ter uns 60 e poucos anos de idade. Era bem claro de pele. Olhos claros, um perfeito gringo! Não parecia nem brasileiro, mas devia ser sim...falava português perfeitamente natural. O Bebê devia ter um ano. Pouco mais ou menos (sou péssima para chutar a idade das pessoas). Aquela criança era mulata, cabelo tão pretinho! Tinha a aparência de ser gerado por pessoas nascidas no nordeste do nosso vasto país. Aquele pequenino mal consegui ficar em pé, mas se esforçava! O senhor, que se referia ao menino como pai, se divertia com ele e se ocupava em segurar o mulequinho cheio de vida pelas mãos. Verdade que o pequeno estava ávido por se soltar da mão do pais e explorar o vagão, mas não andava muito bem devido a sua pouca destreza nas perninhas. Assim, o pai driblava o menino ensinado coisinhas pequenas pra distrair o seu filho enquanto não era chegada a hora de desembarcar. Pai e filho se divertiam. O pai ensinava uns ruídos do que parecia ser uma canção enquanto batia um dos pés, simulando assim uma dancinha. Os olhos daquele menino brilhavam, como se o pai estivesse apresentando a coisa mais legal que ele tivesse visto em sua curta e recente vida...O menino olhava e repetia, desajeitado, o que o pai fazia! Lindo os dois cantando e batendo os pés juntos. Linda sintonia. Era lindo e aconchegante ver como ambos se tratavam. Em dado momento o pai pega o seu menino no colo de forma brusca e divertida. Ele olha para o seu filho e faz confissões de amor. Nunca vi coisa igual! O menino, embora entendesse muito pouco sobre o mundo verbal, sabia que era amado. Embora estivesse bloqueado nos braços do sei pai, se sentia livre...Não se sentia censurado por ter sido retirado do chão, antes, continuou a brincadeira! Notando que uma moça estava um silêncio na sua frente, lendo um livro - ele que estava de frente pra ela, e ela de costas pra ele - sentiu desejo de "conversar" com ela! kkkkkkk...Não sabia falar nada, logicamente. Por isso emitia sonsinhos e gritinhos muito engraçados! a moça continuou da mesma forma, lendo e ignorando, e o mocinho continuava na sua tentativa de iniciar uma conversa!kkkkkkkkkk...
Nossa, ver tudo aquilo valeu o meu dia. Duas figuras tão diferentes. Tão iguais. Mesmo espírito, muito mágico. Pude ver que apesar da loucura absurda e frenética dos últimos dias, o amor continua existindo... Que não existe idade para amar, para servir, para cuidar, para receber amor, pra deixar um legado nobre para as próximas gerações... Fantástico! Naquele dia me senti grata a Deus por ter olhos pra enxergar aquela visão, e por ter um pouquinho de sentimento pra não deixar passar os meus olhos distraídos sobre aquela lição de vida tão profunda. Lição esta que me dizia que mesmo que o mundo seja tão impregnado de maldade, o amor ainda não morreu...
Quando me dei conta, notei que eu não tinha desviado a minha atenção da cena desde que tinha entrado no vagão. Então, um pouco envergonhada por me sentir enxerida, comecei a passear meus olhares pelo vagão. Sabe o que foi que eu notei? Que assim como eu muitas outras pessoas estavam apreciando aquela cena tão doce! Algumas até com um sorriso discreto querendo terminar de se formar no rosto. Fiquei feliz por isso. Pude notar também, com isso, que as pessoas, mesmo na canseira e correria do seu dia-a-dia ainda foram capazes de saírem do seu estado de ausência de espírito e se sintonizarem...notarem aquele pai e aquele filho...tenho certeza que cada um ali, assim como eu, pode tirar uma boa lição daquilo. Cada um a sua maneira. Mas aquilo não passou desapercebido! Talvez alguns estivessem se lembrando como era cuidar de seu filhos quando eles eram tão pequenos...Coisa incrível! Milagre da empatia, milagre da vida, milagre de Deus....Sou grata por viver

primeira postagem^^


Esse texto foi escrito o ano passado, inpirado por um momento de duvida e amor. Quando queria muito estar perto de alguém, mas não sabia como... Amor por uma pessoa que hoje é indispensável na minha vida...Foi chegando de mansinho, e logo me arrebatou o coração...Te amo meu príncipe monstrinho^^


A solidão desperta os sonhos
Sozinha no quarto penso em quem eu sou
Quem gostaria de ser
Com que gostaria de "aprender" a ser

Sozinha não estou só.
Sozinha estou com você.
Sozinha tenho você.
Tão longe...tão perto...

Sozinha posso ser (ou estar) quem (ou com quem) eu quizer....
De tudo posso fazer.
No silêncio mil palavras posso dizer.
Usando minha voz
não ultrapasso a gagueira. Má dicção.

Não sou boa com palavras
Não sei falar
Só sei sentir.


Haifa O. Rodrigues